terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Muller - Duas Indústrias Publicação 18

 

Nesta publicação, nosso Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC),  apresenta as consagradas indústrias alemãs “Muller”, uma síntese de suas histórias e algumas peças por nós restauradas e acervadas.

“É vedada a utilização de quaisquer informações aqui contidas,  para fins  lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

Na Alemanha do século XIX, havia duas indústrias Muller. Uma delas, fundada por Friedrich Wilhelm Muller (Berlim, 1868) iniciou fabricando peças para máquinas de costurar, abastecendo a fábrica de Nikolaus Durkopp, em Bielefeld.

Em 1888, Muller dedicou-se exclusivamente à fabricar máquinas de brinquedo, com produção até 1970. 

li 001 Muller 1889Muller infantil 1898 (acervo do autor) não necessitou restauro, ainda revela florais dourados impressos na base

Inicialmente produzidas em ferro fundido (aço de baixa resistência), depois em chapa de aço (flandres), as máquinas de brinquedo venderam milhões em todo o mundo.

As maquininhas utilizavam “ponto cadeia” com um inferior gancho rotativo (ponto posterior laçava o anterior), cujo sistema foi apelidado de “Bird of Paradise”.

Wilcox & Gibbs I Sistema “ponto cadeia” (corrente)

A próspera indústria produziu também variada linha de instrumentos, desde delicados abridores de cartas até pesados cofres.

Muller infantís Muller infantis (modelos 1909 a 1939)

Após a 1ª Grande Guerra, a fábrica foi assumida por Kurt Pacully, seu parente e, com grande impulso, exportou 250.000 maquininhas por ano para os Estados Unidos.

li 007 Muller mod.14 (acervo do autor)

Em 1955, a então Pacully-Muller produziu milhares de pequenas máquinas elétricas (à pilha), com iluminação e controle por pedal, bastante semelhantes às “adultas”.

Propaganda Ia

Cerca de 80% da produção era exportada e amparada por colorida propaganda orientada para meninas, despertando nelas, de maneira agradável, a produção de vestimentas para as bonecas.

A empresa fechou em 1970, incapaz de competir com os preços dos brinquedos japoneses.

A outra indústria

A outra empresa era a Clemens Muller, de Dresden, a primeira fábrica alemã de máquinas de costurar, iniciada em 1855. Como já citado na “Publicação 6” deste blog (vide “Acervo”), a empresa tornou-se indústria após 1870 (data oficial de fundação) com a associação de L.O. Dietrich, G. Winselmann, e H. Kohler, todos depois fabricantes de suas próprias marcas (dentre elas: Vesta, Titan e Kohler).

Em 1875, foram produzidas mais de 100.000 máquinas, incluindo modelos industriais. Este número aumentou para 200.000 em 1880 e, em 1930 a produção chegou a quase 3 milhões de máquinas. Após a 2ª Guerra Mundial a empresa foi renomeada VEB Máquinas de Escrever e Costurar, com administração inglesa.

FabricaIndústria Clemens Muller em Dresden, 1910 (www.sewalot.com)

Clemens, interessado no crescente desenvolvimento mecânico americano, em 1887, enviou seu filho Ferdinand para os Estados Unidos, para observar novos sistemas e aplicá-los na próspera indústria.

C Muller Clemens Muller 1887 (nº 622.504), adquirida em Ijuí/RS, em deplorável estado. Após três anos de árduo restauro foi incorporada ao acervo do MAMC.

672Clemens Muller 1888 (nº 672.398), adquirida em Porto Alegre/RS, também restaurada e acervada.

Até 1889 as máquinas eram fabricadas em ferro fundido, incluindo a base, sempre com desenhos florais ou zoomorfos.

Em 1888, Ferdinand Clemens assumiu a empresa, mantendo o nome do pai, produzindo também máquinas de escrever, a partir de 1910.

P8302166Clemens Muller, centenária (nº 689.073), adquirida como sucata em Bento Gonçalves/RS em 1978, acervada em 2012, após árduo e histórico restauro de décadas, relatado na Publicação 16 (“Clemence”)

2.754.172 Clemens Muller (nº 2.754.172), adquirida em P. Alegre/RS, restaurada, manteve o curioso volante recomposto com rebites em chapa de aço e a manopla executada em chifre torneado. Certamente teve seus raios quebrados há muitas décadas.

A partir de 1890, a indústria passou a utilizar dezenas de marcas em diversos idiomas, com a intenção de exportar para vários países. Assim, a “La Reina”, com o sugestivo nome e esmerada qualidade (algumas com madrepérola incrustrada) foi sucesso de vendas na Espanha e países de língua espanhola.

Com esta intenção, a Clemens Muller, produziu mais de 60 marcas de máquinas de costurar, das quais resgatamos:

Marcas C Muller

É conveniente ilustrar que, no intuito de atender (compelir) o mercado da promissora América do Sul, outros fabricantes alemães colocaram nomes curiosos em suas máquinas de costurar (as falhas ortográficas são originais):   “Aligeira, Carioca, Carissima, Carmen, Cinderella, Filinha, Formidable, La Blanca Mejorada, La Graciosa Chilena, Reina del Chile, Nunca Dorminos, Senorita, Tangos, Vencedora,…” foram máquinas importadas pela América Latina entre 1890 e 1920.

Nosso “Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar” (MAMC) possui cerca de 30 Clemens Muller, algumas ainda em restauro, todas com alguma diferença (dimensão, formato, base, sistema,..).  O resgate desta história excede ao simples relato de seus acontecimentos. Consiste sim na tangibilidade de suas obras, ao preservar suas máquinas e disponibilizá-las aos nossos fisiológicos sentidos.

Distintamente de mero relato, assim podemos contemplá-las visualmente, tal como quando em operação; apalpá-las, tateando suas formas e relevos; ouvi-las ronronando a funcionar contentes, emocionarmos ao presenciar o fruto vivo desta prodigiosa invenção secular.

Ressuscitadas, superaram a idade de qualquer humano, estas sesquicentenárias anciãs, passam a reinar, barulhentas, imponentes e majestosas.

foto ViagemTurismo 

“A preservação consiste em muito mais do que apenas uma lembrança de fatos, ações ou coisas. Significa sim, uma doce e agradável viagem para um mundo intemporal, onde a vida se perpetua na presença de objetos que fizeram parte da existência de pessoas que já se foram...

Não seria exagero afirmar que a memória histórica é um universo mágico, onde se perde o peso, ao levitar nas tantas informações transmitidas pelas peças de um querido acervo (Prof. Darlou D’Arisbo).”

Até a próxima