sábado, 23 de julho de 2011

Acervo – Publicação 6

 
O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) é um acervo particular e privado, com mais de duas centenas destes importantes instrumentos mecânicos.
 
Vide Publicações 1 a 5, referentes a: Identificação do Museu, Colecionador, Importância da Máquina de Costurar, Precursores e outros pioneiros e Restauro.
 
Nesta publicação são apresentadas algumas máquinas do acervo, com considerações peculiares e identificação de número de fabricação.
 
 
clip_image002
Clemens Muller (nº 565.660, acervo do autor)
 
A indústria Clemens Müller, em Dresden, Alemanha, fundada em 1870, tinha como sócios: L.O. Dietrich, G. Winselmann, e H. Kohler, todos depois fabricantes de suas próprias marcas (dentre elas: Vesta, Titan e Kohler).
A Clemens Müller foi a primeira indústria de máquinas de costurar da Alemanha (Dresden), iniciando a produção em 1855.
Em 1875, mais de 100.000 máquinas, incluindo modelos industriais foram produzidos. Este número aumentou para 200.000 em 1880 e, em 1930 a produção chegou a quase 3 milhões de máquinas. Após a 2ª Guerra Mundial a empresa foi renomeada VEB Máquinas de Escrever e Costurar.
O autor possui 23 máquinas manuais Clemens Müller, todas com alguma diferença (dimensão, formato, base, sistema,..).

 

 

clip_image004Vestazinha (nº 1.644.317, acervo do autor)

Vesta (deusa romana do fogo sagrado) era fabricada pela LOD (L. O. Dietrich) em Altemburg, Alemanha. O autor possui 16 máquinas manuais Vesta, de diferentes modelos, desde as robustas Dietrich Vesta, até as pequenas “Vestazinha” exclusivas para países de língua portuguesa. A empresa foi formada em 1880, passando a produzir exclusivamente armas na segunda guerra, sendo fechada pelo exército russo em 1946.
 
 
 
 
clip_image006
Jones Family CS (nº R 604.087, acervo do autor)

Máquina adquirida sem uso (em 1982), de um viúvo, o qual informou tê-la guardado por muitas décadas, após o falecimento da esposa.
A Jones Sewing Machine Co. foi fundada em 1860 por William Jones e Thomas Chadwick, Inglaterra.


clip_image008 
O modelo Family CS foi elaborado especialmente para fornecimento à “Sua Majestade a Rainha Alexandra”, entre 1914 e 1920.

clip_image010
O adesivo da empresa vendedora “B. LAUXEN & CIA – Importadores – Carasinho – R. G. do Sul” comprova sua legitimidade, nunca usada. 


 

clip_image012Noiva (nº 1.526.296 c/ estojo, acervo do autor)

 O nome “Noiva” era exclusivo de exportação para o Brasil. Fabricada pela Dürkopp-Werke AG. Em outubro de 1867, Nicolaus Dürkopp associou-se com Carl Schmidt, para fundar a Dürkopp & Schmidt fábrica de máquinas de costura. Após 1899 passou a fabricar automóveis.
 
 
 
 
clip_image014
Singer New Family, 1897 (nº 14.845.650, acervo do autor)

Adquirida em S.Brás do Suaçui - MG, depois restaurada e acervada.
 
 
 

clip_image016
Rhenania 1886 (nº 82.565, acervo do autor)
 
Fabricada pela “Mes Werdt” em Saalfeld- Rudolstadt, Alemanha. Adquirida em Bento Gonçalves - RS em 1980.
 
 
 
clip_image018
Winselman (nº 2.008.487, acervo do autor)
 
Em 1892, G. Winselmann renunciou à sociedade na Clemens Müller, formando a sua própria empresa: Winselmann Nahmaschin, também em Altenburg, Saschen, Alemanha.
 
 
 
clip_image020
Willcox & Gibbs 1870 (nº 145.336, acervo do autor)
 
 
clip_image022
Detalhe da biela com articulação superior esférica,sistema revolucionário para a época.
 
Willcox & Gibbs, dentre outras inovações, patentearam o ponto em cadeia em 1857, cujo modelo de máquina popular foi sucesso, fabricado por décadas. Vide “Precursores – Publicação 2”.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Cupins (terror dos colecionadores e restauradores) - Publicação 5

 

O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) é um acervo particular e privado, que desenvolve pesquisa na evolução mecânica e social deste importante instrumento mecânico.

Vide Publicações 1 a 4, referentes a: Identificação do Museu, Colecionador, Importância da Máquina de Costurar, Precursores e outros pioneiros e Restauro

 

Os cupins (térmitas) são insetos que abundam nos trópicos, alimentando-se de celulose (C6H10O5) constituinte das paredes das células vegetais da madeira seca.

Entomologicamente, são denominados termitídeos, com cerca de 300 espécies conhecidas, constituindo importantes pragas urbanas, pois danificam o madeirame de construção, móveis e livros.

São rigorosamente organizados numa sociedade de castas, onde cada integrante possui uma função específica e fisiologia própria.

clip_image002

Rainha, prestes a ovopositar

 

A rainha, que vive mais de 20 anos, possui a função específica de acasalar e ovopositar. Outros cupins, exclusivos, tratam da sua alimentação e segurança. Milhares de ovos, com cerca de 3mm cada, são produzidos por ela a cada ano e ficam incubados por duas semanas sob o cuidado dos cupins-operários.

Após este período nascem as ninfas, que se alimentam de resíduos regurgitados por operários que as cuidam e tratam.

Após diversos estágios de crescimento, assumem uma determinada e exclusiva posição nas castas, geneticamente programados.

Os reprodutores adultos, machos e fêmeas, desenvolvem órgãos sexuais, asas e seus olhos tornam-se funcionais. Em determinado momento, deixam a colônia em enxameamento, simultaneamente, de preferência na primavera e no outono. Como tem dificuldade para percorrer os túneis, até a saída, operários os “empurram” até a saída.

Após encontrar um local propício, normalmente próximo, perdem as asas e instalam-se.

A rainha é fecundada e iniciam ali nova colônia, cujos ovos formarão ninfas, soldados, operários e reprodutores.

clip_image004

Enxameamento alado

 

Os operários, estéreis e cegos, são ávidos por celulose, o alimento básico para toda a colônia. Alguns também atuam na segurança e alimentação da rainha, ovos e ninfas. Trabalham 24 horas por dia, perfurando o interior das madeiras, construindo galerias e câmaras. Para melhor segurança, criam labirintos com saída difícil e bloqueiam caminhos com paredes de cera.

Os soldados, ao final do estágio de crescimento, adquirem uma blindagem na cabeça, assim como grandes e fortes mandíbulas. Aguerridos, são preparados para defender a colônia dos inimigos, especialmente das formigas.

clip_image006

Térmitas operários

 

Os ataques à madeira são aniquiladores, destruindo estruturas, portas, mobílias e peças constituídas com o material. Infelizmente, as infestações são notadas após vários anos da instalação inicial, quando já é difícil combater a praga instalada ou recuperar a peça atingida. Como são lucífugos (não aparecem à luz), deslocam-se somente nas galerias cavadas dentro da madeira.

Para saber de sua existência, podemos atentar a:

1. Observar as revoadas (parecem formigas com asas) para novas instalações, nos meses quentes;

2. Notar a existência de seus resíduos fecais (minúsculos grãos secos <1mm), normalmente saídos de galerias já lotadas;

3. Perceber som “oco” ao bater em madeiras atacadas.

Saiba-se, porém, que estas lamentáveis constatações ocorrem após muitos anos de infestação. Em alguns casos, décadas transcorrem sem a confirmação da existência dos cupins.

Muitos produtos são divulgados como cupinicidas exterminadores. Mas embora suas formulações sejam adequadas (sejam pós, líquidos ou gases), torna-se impossível o contato com os cupins, devido aos bloqueios que eles constroem nos imensos e inacessíveis labirintos.

Às tais dificuldades, acrescente-se a “inteligência” construtiva deles; executando túneis, desviando orifícios ou encaixes, evitando atingir superfícies,...para não deixar sinais visíveis. Embora cegos e surdos, supõe-se que possuem sensores à luz e ao som, para evitarem proximidades que possam denunciá-los. Mesmo os seus excrementos, só são liberados ao exterior muitos anos após a instalação, quando os depósitos internam não mais comportam.

clip_image008

Interior de tampo de máquina de costurar seriamente atacado por cupins

 

Evitam-se novas incursões, aplicando produtos líquidos (cupinicidas) sobre as superfícies, após a certeza de ainda não estarem infectadas.

O combate efetivo e satisfatório só ocorre quando alteradas suas condições mínimas de sobrevivência. E, como os limites suportáveis de temperatura, situam-se entre os -5ºC e os 70ºC (cinco graus negativos e setenta graus positivos), dependendo das dimensões das peças, a colocação de peças pequenas em forno (microondas é ótimo), por uma hora ou partes grandes em freezer (câmara frigorífica), por uma semana, são indicações com resultados comprovados.

Constatamos aglomerações com centenas de térmitas soldados mortos, cobrindo a rainha e ninfas, na tentativa de preservar-lhes o calor necessário para sobrevivência, após submeter uma peça antiga a uma semana em freezer (-18ºC).

R e s t a u r o (Publicação 4)

 

Conforme a enciclopédia fundamental da língua portuguesa: Lello Universal (ed.1922): “Restauração, s.f. (lat. Restauratio) acto ou effeito de restaurar. Fazer voltar a antiga importância, ao seu original esplendor. Consêrto, reparação; restauração de uma egreja, de um quadro. Restabelecimento, vida nova, dada a uma instituição. Restabelecimento de uma dynastia no throno, que perdera. Reaquisição da independência nacional: a restauração de Portugal em 1640.”

O restauro é um longo, analítico, analógico e específico processo.

Analítico porque depende de estudo minucioso da peça, sua legitimidade, exame criterioso de suas partes, investigação de sua história, pesquisa física de seus componentes e funcionamento, composição de pigmentos, ligas metálicas e demais materiais.

Analógico, a buscar identificação e semelhanças a outras peças, em conjunto ou parciais, no contexto histórico e evolutivo, sejam relatos pesquisados ou fisicamente acervadas.

Específico porque avalia as características próprias da peça, considerando que dois objetos aparentemente iguais podem ter sofrido usos e agressões diferentes no curso do tempo, com histórias diferenciadas.

Peças submetidas à intempéries ou até parcialmente soterradas, possuem partes corroídas pela acidez do solo em suas partes enterradas e oxidadas pela ação meteorológica na parte superior. As peças normalmente possuem partes protegidas, menos vulneráveis às agressões naturais, assim também recebem tratamentos diferentes em suas partes. Assim, também em relação á utilização, manutenção incorreta, falha de limpeza ou lubrificação de partes móveis, requerem tratamento específico.

clip_image002

Considero RESTAURO como o conjunto de operações para interromper o processo de deterioração de um objeto que testemunhe a história humana, e reconstruí-lo, para estabelecer seu aspecto original de quando em funcionamento ou reconstituir sua aparência e funcionalidade como novo.

Qualquer material está sujeito a diversos agentes de deterioração de ordem química (gases nocivos da atmosfera poluída, partículas minerais muito penetrantes, ...), física ( variações de temperatura e umidade), biológica (ação de bactérias, fungos, cupins...) ou falhas de manutenção e de preservação. No caso das máquinas de costurar, comprovadamente, o descaso com peças antigas é manifesto; raridades jogadas em ferros-velhos, enferrujando, propositadamente quebradas para diminuir volume,..

clip_image004

Na aquisição da máquina (vale para outras peças) procuro descartar as que são oferecidas por elevados valores, com visível intenção pecuniária. Ter capacidade de avaliar a legitimidade do objeto, sua origem.

Sempre, ao receber uma antiga máquina de costurar, seja por doação ou aquisição, vejo nela a necessidade de algum (ou total) restauro. Os piores casos não são as que sofreram desgastes naturais pela ação do tempo, mas sim as que foram alteradas; repintadas, adulteradas, por vezes com a intenção de ludibriar o comprador ou vendidas como peças “decorativas”.. Há uma infinidade de “fábricas de antiguidades”, muitas com aparência de originais, principalmente relógios, pinturas, gramofones, móveis, livros, entre outros.

Felizmente, as centenárias máquinas de costurar são dificilmente falsificadas, considerando sua constituição original em aço de baixa resistência, evidencia fundições exclusivas de sua época.

Esta liga, de ferro e carbono, possui características de fragilidade e fácil decomposição por abrasividade quando comparada às ligas atuais, o que facilita a identificação.

Obviamente, a existência de partes de materiais recentes (plásticos, pigmentos,...) condena sua idade.

clip_image006

Cada máquina (ou suas partes) revela características específicas de restauração. Procuro seguir um preceito em que analisa três aspectos básicos:

1. Autenticidade: se realmente trata-se de legítima, cuja origem é conferida por meio de busca em fontes de informação;

2. Preservação: seu desgaste natural pela utilização ao longo do tempo, deterioração, falha de manutenção,...

3. Reversibilidade: possibilidade de recuperação de suas partes, restituição de funcionamento,.

Analisados estes questionamentos, o propósito é de restaurá-la preservando suas marcas de utilização, ou seja, na medida do possível, preservar seu estado de quando em funcionamento.

Embora alguns restauradores recuperem as peças de maneira a passarem a apresentar estado de novas, tal quando fabricadas, meu particular objetivo é mais relato histórico, permitindo que as máquinas de costurar demonstrem suas características de utilização.

Preliminarmente (antes de ações físicas), busca-se a identificação (marca, número de série,..), história (a quem pertenceu, finalidade de utilização, ..), informações complementares,...

Através da Internet pode-se conseguir (ou adquirir) antigos manuais ou fichas técnicas.

clip_image008

Página do Manual Singer mod 24

Repito as palavras do colecionador Daltro D’Arisbo: “Quando encontro um rádio, em geral ele está velho, muito longe de ser um objeto antigo e digno de colecionamento”

As antigas máquinas de costurar eram bens de propriedade e uso notoriamente feminino. E, embora aquelas damas desempenhassem com excelência as tais essenciais tarefas, observa-se que olvidavam as normas de manutenção e muitas peças apresentam desgastes específicos exagerados. Lubrificavam algumas partes e negligenciavam outras, utilizavam óleos vegetais ou até animais, claramente comprovados no processo de restauro com solventes específicos.

Evidentemente, estas máquinas antigas, foram construídas em materiais resistentes e, justamente por isso, preservam-se por muitas décadas, mesmo sofrendo falhas de manutenção.

Algumas características alimentam os relatos históricos específicos, como a máquina “Junker & Ruh” da família Filipetto, adquirida em 1890 e passada de mãe para uma das filhas, por várias gerações, sempre com a proibição de “outros mexerem”. Esta é uma das raras exceções que me chegou em perfeito estado, sempre lubrificada a contento, nunca reformada ou consertada, funcionou exaustivamente por mais de um século! Seu restauro limitou-se à mera limpeza e redação histórica.

clip_image010

Observe-se que, algumas marcas de uso identificam sua utilização no decorrer do tempo, merecem ser preservadas como testemunha histórica de sua vida funcional, como já citado. Marcas de carbonização em peças de madeira, identificam incêndio; desgastes localizados definem formas de uso; restos de insetos noturnos ou pingos de velas indicam utilização noturna; pedaços de papel com informações numéricas em sua caixa inferior (valores, medidas,...); recortes de jornal da época, santinhos com orações, ...

Enfim, são informações preciosas que esclarecem sua história e que também orientarão seu restauro.

Como normalmente as máquinas chegam-me sem relatos (adquiridas em feiras, ferros-velhos, permutas ou doações), algumas etapas de análise são omitidas. Procedo à identificação e pré-limpeza e desmontagem.

A pré-limpeza é realizada (com cuidado, para não perder dados, tais os citados), previamente com pincel para retirada de materiais soltos, depois com solventes leves: normalmente (na ordem); água morna, água com detergente, querosene. Nunca se devem utilizar produtos agressivos (ácidos ou cáusticos). Sempre são indispensáveis os EPIs (luvas e óculos)

A desmontagem, habitualmente requer esforços e ferramentas específicas: morsa, chaves de fenda de impacto, alicates de pressão, pinças... Sempre com muito critério e cuidado, pois a constituição das peças era em aço de baixa resistência, quebradiço à impactos.

Importantíssimo é eleger uma ordem de desmontagem, assim como a guarda de seus componentes, pois qualquer desordem comprometerá a recomposição.

clip_image012

Ordem de algumas partes no Manual da Howe 1870

Os parafusos de meio século não se assemelhavam aos atuais, suas roscas (passos, ângulos,...), assim como as “cabeças” não são comercializáveis hoje. Ou seja, é indispensável manter em bom estado os parafusos retirados. Caso necessário, aumentar-lhes a fenda, com uma lâmina de serra para metais (prefira as com 32 dentes por polegada).

clip_image014

Comumente os parafusos são “teimosos” e, acomodados por muitas décadas, negam-se a sair.

Nestes casos não há milagres. Aplica-se desengripantes, tenta-se com chaves de fenda de impacto, alicates de pressão (se há cabeça aparente), aquece-se tepidamente e... recomeçam-se as tentativas. Por vezes, aplicando-se o desengripante e deixando para o dia seguinte, há um possível sucesso. Mas, em casos extremos, é necessário utilizar talhadeira, com impactos na lateral da fenda, sentido anti-horário, o que pode comprometer a cabeça. E, se nem assim o pertinaz parafuso negar-se a sair (principalmente embutidos com cabeça cônica), a solução radical é de aplicar a furadeira (broca menor) e refazer a rosca na peça, obviamente em padrões atuais.

Nesta possibilidade, torna-se necessário escolher um parafuso “parecido” com o original.

Lembre-se que, na época só existiam cabeças tipo “fenda” (patenteado na Inglaterra em 1797), não existia Phillips, Torx, Robertson e outros comuns hoje.

Para substituir para parafusos por atuais, além de adaptar sua cabeça (por torneamento ou lixamento) é necessário “envelhecê-lo” para conferir-lhe a idade da máquina. O procedimento que adoto é simples e exitoso. Consiste em aquecer o parafuso (chama do fogão) até torna-lo rubro, depois mergulha-se em óleo preto (resíduo do carter de automóveis). O processo vale para quaisquer peças pequenas. Na foto, o pino suporte de carretéis, executado a partir de um prego!

clip_image016 clip_image018

As partes corroídas por oxidação exigem procedimento abrasivo (raspagem, lixamento,..) e aplicação de pintura protetora. Existem no mercado produtos que apregoam retirar a corrosão, protegendo com camada fosfática. Acredito que sejam realmente eficazes, mas como o meu método tem sido eficiente por décadas, mantenho-o. (não altera-se time vencedor!)

clip_image020

Pino superior colocado (Saxônia)

Jamais aplicar “jato de areia” ou granalha de ferro para remover corrosão ou pintura antiga, pois danificam por abrasão os componentes, ou até eliminam alguma identificação impressa em baixo relevo.

Sempre investigar minuciosamente as partes inferiores da base, se metálica, e internamente, na busca por inscrições. As peças móveis também podem conter identificação.

clip_image022

Partes seriamente corroídas (cáries) podem ser cuidadosamente preenchidas com resinas (duas massas reagentes, tal Durepoxi), depois lixadas e pintadas (fundo e cobrimento).

Algumas empresas especializadas em pintura eletrostática (aplicação de pigmento em pó, eletricamente carregado com até 100kV ) podem prover a limpeza química e pintura da peça.  (Tecnopó Pinturas Industriais – Toledo – PR)

clip_image024 clip_image026

Sewlette infantil 1965 (antes e depois) com tratamento eletrostático

A pintura das partes (definição de cores na análise preliminar), que normalmente eram pretas, pode ser realizada por pistola ou com pincel de cerdas delgadas e macias. Observe-se que, no restauro que adoto, procuro sempre que possível, “retocar” as falhas, preservando sua aparência de usada, embora recuperando seu funcionamento.

Para a execução do restauro nas partes originalmente cromadas, após a limpeza já citada, utilizo esponja metálica (consagrado BomBril) embebida em querosene. No caso de volantes ou peças circulares cromadas, coloco-as no torno e, em baixa velocidade, o que facilita o processo. Desaconselho a “recromação”, pois alteraria o aspecto de USADA.

Comumente, as antigas máquinas de costurar traziam emblemas metálicos de marca, fabricante ou apenas logotipo da empresa afixados na coluna. Caso possível retirar, após a limpeza física, mergulhá-los em ácido acético 2-5% (vinagre caseiro serve) por uma noite. Depois aplicar um polidor automotivo.

clip_image028

Plaqueta Singer mod 19

Como os plásticos foram inventados após 1930 (baquelite em 1909), as partes não metálicas eram constituídas de louça (manoplas) ou madeira (bases). Por medida de economia, alguns fabricantes produziram manoplas em madeira torneada, assim como a substituição das quebradas.

Deste modo, quando na ausência da manopla original, executo em madeira uma similar.

clip_image030 clip_image032

Execução da manopla

 

clip_image034

Manopla colocada

Nas bases em madeira, procuro refazê-las na maior semelhança possível, completando-as com partes análogas em aparência. Adesivos vinílicos para madeira (Cascolar, ..) são adequados e ganchos de pressão (sargentos) firmam as partes até a solidarização (24 horas, não menos).

Evita-se a colocação de pregos, parafusos,...e em casos de necessários preenchimentos na madeira, utiliza-se “palitos de picolé” colados, e acabamento com massa plástica.

Caso constatado o ataque de térmitas (cupins), o procedimento foi relatado na página “Restauro - Os cupins (terror dos colecionadores) – Publicação 5

Sofisticação da Máquina de Costurar (Publicação 3)

 

A máquina de costurar familiar, em ferro fundido, começou a estar presente em muitos lares. Dentre os tipos mais requintados, destacavam-se modelos compostos por móvel de duas portas, dissimulando a armação de madeira, os pedais, as gavetas e a cabeça basculante.

clip_image002

New Home 1952 (acervo do autor) 

Alguns modelos mais sofisticados passaram a ser integrados em mesas e colunas com pedestal.  Em 1947, a Royal apresentava um luxuoso móvel, com rádio, toca discos, relógio, bar e, claro, máquina de costurar.

clip_image004

A luxuosa Royal

 

As Meninas e suas Maquininhas de Costurar

Com grande consagração, as máquinas de costurar de brinquedo, produzidas especialmente para crianças meninas, apareceram no mercado e conheceram um enorme sucesso a partir do final do século XIX. Algumas realmente costuravam, embora de forma rudimentar, com fio único. (o autor  mantém um acervo de dezenas destas, resgatadas em vários  países e em ótimo estado de conservação).

clip_image006  clip_image008

Máquinas infantis: brasileira 1955 e alemã 1898 (acervo do autor)

Precursores da Máquina de Costurar (Publicação 2)

 

Nascido em Abresle, no Reno, Barthélémy Thimmonier era um modesto mecânico e alfaiate quando inventou o primeiro aparelho para coser, imitando o gesto das bordadeiras dos montes de Lyon. Para entender os princípios de mecânica, associou-se a um professor da Escola de Mineiros de Saint-Etienne que elaborou os planos da sua invenção, cuja patente foi registrada em 1830.

Com a participação de sócios capitalistas parisienses, abriu o primeiro atelier de confecção do mundo, onde 80 rudimentares máquinas cosiam seis vezes mais depressa que à mão.

Proj Thimonnier Projeto patenteado por Thimonnier

No final do mesmo ano, o exército francês, em campanha na Argélia, encomendou uniformes para os soldados em combate. Thimonnier instalou então sua empresa em Paris. Porém em 20 de janeiro de 1831,  duzentos costureiros, que temiam pelos seus postos de trabalho, saquearam o prédio e destruíram as máquinas.

Era a época da Revolução de Julho e das Três Gloriosas, as mulheres e crianças eram exploradas e as máquinas ameaçavam os operários alfaiates numa miséria ainda maior pela suposta decorrente mecanização.

Em 1832, Thimonnier fabricou um instrumento de costura para fazer pespontos e tentou a conquista comercial em Paris. Porém, novos tumultos explodiram, e foi mais uma vez fracassado. Em 21 de Julho de 1845, com uma nova patente, tentou novamente e, pela primeira vez, a imprensa francesa lhe foi favorável.

Thimonnier Journal

A máquina “cose e borda” qualificada de pequena maravilha numa publicação de 19 de agosto de 1845, permitia realizar 200 pontos por minuto e podia alterar o tamanho deles através de um simples parafuso.

Na revolução de 1848, caiu a monarquia dos Bourbon com a proclamação do Segunda República, Thimonnier foi expatriado para Inglaterra, onde tentou uma patente inglesa. No entanto, outros inventores, na Europa e nos Estados Unidos, haviam  desenvolvido as suas descobertas. Máq Thimonier

Primeira máquina de Thimonnier

Dificuldades com o sócio inglês, obrigaram Thimonnier a regressar para a França, onde outras desilusões o esperavam. A França estava recuperando-se de outro golpe de Estado. E, em 1851 a máquina que deveria estar presente na Exposição Universal de Londres não foi entregue a tempo.  Enquanto o seu filho mais velho partia para a guerra da Criméia, Thimonnier era novamente ameaçado pelos alfaiates e também pelos seus concorrentes.

mulher costurando

Ilustração em 1845

Em 1855 abandonou o frágil sistema de costura por “ponto de cadeia”, com único fio lançado no tecido por uma agulha (tipo crochet com duplo arco, na parte superior e na inferior). Consagrou-se então ao ponto com dois fios, obtido graças a uma agulha de fazer rede. Contudo, a sua nova máquina também não ficou pronta a tempo da seguinte Exposição Universal de Paris.

máq Thimonnier

Segunda máquina de Thimonnier

Decepcionado, Thimonnier voltou ao aperfeiçoamento do ponto de cadeia, porém sem sucesso, com perigo de descoser.

Depois de muitas malogradas tentativas, morreu na miséria, em 1859. Por ironia do destino, um monumento foi-Ihe dedicado em Lyon, na Place de Abondance.

 

Outros pioneiros

Outros inventores também conheceram dissabores. Em 1735, Charles Weisenthal, alfaiate alemão, residente na Inglaterra, obteve uma patente para uma rudimentar máquina dotada de uma agulha de duas pontas munidas de um buraco no meio. O curioso instrumento de coser não teve sucesso.

Em 1790, Thomas Saint,  marceneiro inglês realizou um protótipo  para acolchoar e fazer costuras em sapatos, botas, pantufas e semelhantes. Colocada em cima de uma armação de madeira, esta máquina funcionava com a ajuda de uma manivela. Uma sovela (semelhante a uma pequena lança) perfurava o tecido e, através desse orifício, passava uma agulha munida de um buraco no meio. Todavia, este engenho, demasiado arcaico, não possuía nenhuma vantagem, a não ser a de conduzir o fio.

No mesmo ano, o alemão Balthasar Krems, inventou uma agulha com o buraco junto à ponta. Embora rejeitada, a agulha perpetuou seu desenho até hoje.

Em 1807, Joseph Madersperger, mestre alfaiate austríaco, construiu uma máquina dotada de uma agulha com duas pontas e orifício no centro. No entanto, esta podia utilizar apenas quarenta e cinco centímetros de fio de cada vez.   Oito anos após, desenvolveu um novo modelo, com duas agulhas e um terceiro fio, alternadamente alçado pelos anteriores.  Porém, dificuldades financeiras obrigaram-no a abandonar as suas pesquisas.

O estadunidense Walter Hunt, empregou pela primeira vez, o princípio da lançadeira (naveta) em 1834.  

Elias Howe, inventor, desenvolveu uma máquina mais satisfatória, com agulha horizontal, porém foi mal sucedido ao promovê-la.

Elias Howe II

Elias Howe, sua máquina em 1846

Howe mudou-se para a Inglaterra e vendeu lá seu projeto para William Thomas, por 250 libras. Desgostoso, empobrecido e insatisfeito, anos após voltou aos Estados Unidos e surpreendeu-se com o sucesso do seu projeto executado ilegalmente por outros fabricantes.

Elias Howe III

Após muitas demandas judiciais, em 1854, conseguiu recuperar suas patentes e receber imensas indenizações, incluindo U$15.000,00 de Isaac Singer.  Em 1867, passou a ser um dos homens mais ricos do mundo.

maq cost howe 26

James Edward Allen Gibbs era um agricultor em em Rockbridge County, Virgínia. Interessado em mecânica, em 1854 desenvolveu uma rudimentar máquina em madeira, com inovador ponto em cadeia (ponto anterior é alçado pelo posterior)

 

Willcox Gibbs maq madeira  Wilcox & Gibbs I

A máquina e o sistema de ponto em cadeia

Gibbs associou-se com Charles Willcox e patentearam o sistema, incluindo outras soluções (tensão automática da linha, alimentação, remoção de torções e até redução de ruído). Suas máquinas Willcox & Gibbs constituiram sucesso por décadas.

Willcox Gibbs II

MCost peq 

   Willcox & Gibs 1857 (acervo do autor) 

A partir de 1851, os fabricantes ingleses e alemães acotovelavam-se para ganhar um lugar no próspero mercado. Marcas germânicas como Adam-Opel, Universam e Saxonia surgiram e fábricas inglesas como Jones, Starter & Company impuseram-se. Procuraram soluções para tornar o fio mais resistente e diversificar os tipos de ponto, enquanto que o sistema de lançadeira se impôs.

Fábr alemã

Junker RUh 

Propaganda da época de máquina Junker acervada pelo autor

Na França, desde 1853, marcas como Journaux-Leblond e outras, criavam modelos de máquinas, embora rudimentares, a preços atraentes.

Adam Opel (Rüsselsheim 1837 – 1895) trabalhou para Journaux & Leblond, fabricante de máquinas de costurar. Em 1862, começou a construí-las por conta própria em sua pequena e artesanal fábrica.

No ano de 1868, casou com Sophie Marie Scheller. O dote da noiva permitiu ampliar sua fábrica e produzir a "Sophia", em honra à esposa, sucesso de vendas e exportação. Em 1884 construiu 15 mil máquinas de costurar e, no ano seguinte, Opel iniciou também a construção bicicletas.

Seus filhos continuaram a empresa e, em 1899, produziram o primeiro automóvel Opel.

Máq Opel

Opel 1884

Em 1867, a Peugeot entra na corrida e não cessou mais sua atividade no domínio da máquina de costurar até 1936, para se lançar na construção de automóveis. Dentre tantos outros equipamentos mecânicos, a Peugeot produziu também moedores manuais de grãos (o autor resgatou um exemplar, no interior do Rio Grande do Sul, fabricado no século XIX  e ainda em bom funcionamento).

Máq Peugeot

Isaac Merrit Singer, estadunidense e filho de imigrante judeu alemão, começou a carreira na comédia teatral sob o pseudônimo de With. Em 1850, convertido à mecânica, agrupando soluções existentes e adquirindo sistemas já patenteados, iniciou a produção de máquinas de costurar.

Isaac Singer  15

Isaac Merrit Singer

Consciente de suas qualidades de orador, Singer iniciou-se no sistema de venda de “porta a porta” fazendo também demonstrações em feiras e circos. Para conseguir mais atenção, instalava-se no passeio e costurava com a máquina. Os transeuntes apinhavam-se para o ver, artista que era.

A primeira máquina, batizada de “Jenny Lind” em honra a uma cantora sueca, foi um sucesso. Em 1858 produziu a “Sauterelle” e depois o modelo “A” (o autor resgatou e mantem no acervo, em ótimo estado de conservação), com revolucionária lançadeira transversal.   Singer foi o precursor da locação  com opção de compra (leasing), onde o adquirente pagava o aluguel da máquina até atingir o seu valor total, quando se tornava proprietário.

livro I

Declaração da Sra. Wm. Allison M., Statesville, Carolina do Norte, em 1911: “…possuo e  opero a Singer desde 1860, já costurei mais de cem milhas e ainda está boa”

Singer democratizou a máquina de costurar e tornou-se o líder mundial dentre os 124 fabricantes que já partilhavam entre si o mercado. Em 1880, ele construiu 3 milhões de exemplares de diferentes modelos. E no ano de 1891, sua produção foi de 10 milhões de máquinas.