segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Restauro das Pequenas - Publicação 32

O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) apresenta, nesta publicação, algumas informações sobre a “ala pediátrica” de nossa oficina de restauro.

Assim como as máquinas de costurar tão utilizadas por senhoras, a partir de 1870 algumas indústrias produziram similares funcionais para as crianças meninas, respeitando dimensões e segurança.

Atualmente os brinquedos limitam-se à virtualidade. Aquelas maquininhas despertavam e ensinavam, de maneira agradável e lúdica, canalizando as energias das crianças numa produção frutífera, na confecção de utilidades ou roupinhas para as bonecas, despertando a admiração por suas obras físicas, tangíveis.

Incentivadoras gravuras de época
Nosso acervo possui uma centena destes profícuos brinquedos e assim, mantemos uma “ala pediátrica” para restauro destas – paradoxalmente – “idosas infantis”, pois algumas possuem mais de 120 anos de sobrevivência.
Ofertas de maquininhas em jornal, no final do séc. XIX
Müller 1889 (ind. Friedrich Wilhelm Muller - Berlin), a mais antiga do nosso acervo
Muitas destas, adquiridas em diversos países, nos chegam em péssimo estado, carecendo de difícil e intrincado restauro, dificultado pela inexistência de peças ou pela necessidade de executá-las. Apesar dos obstáculos, as contingências favoráveis sempre estão presentes, como se os invisíveis anjinhos que “moravam” naquelas crianças apresentem soluções, ressuscitando estes graciosos brinquedos daquelas princesinhas.

Cerro os olhos e sinto a expressão de felicidade e compenetração presente nas faces das meninas de outrora, a manusear aquelas maquininhas.
Sewette ZigZag elétrica 1960, japonesa, antes e depois do restauro
A presente publicação refere-se ao restauro de duas maquininhas:
Uma Junior Model NP-1, made in USA, e a outra, uma Piq Bien, francesa, ambas da década de 1940.

A Junior Model NP-1, foi por nós adquirida na Feria da Calle Tristan Narvaja – Montevideo, em agosto de 2012. Aos domingos, são quilômetros de feira na rua, onde vendem muito além do que se pode imaginar: carros, patos, ferramentas, cristais,..
A Tristán Narvaja em Montevidéu, um curioso universo
O estado geral da maquininha era deplorável, aparentemente irrecuperável, mas consternado com tal situação, a adquiri por quatro dólares. Ela permaneceu em nossa reserva técnica como possível doadora de peças, graças à inexistência de peças e a inviabilidade econômica de execução das partes faltantes (dentre outras, o volante com acionador excêntrico).
A  Junior NP-1 quando adquirida
Nestas maquininhas ao iniciar o restauro, a costumeira rotina do desmonte é mais parcimoniosa, cautelosa, pois suas partes são muito delicadas. E suas peças, que normalmente já chegam com sequelas de maus tratos, facilmente empenam ou quebram.
As articulações rígidas, por vezes solidamente imobilizadas pela avançada oxidação, requerem boas doses de paciência e desengripante.

Mas aos poucos, respondem com ínfimos sinais de movimento, as essenciais mensagens da possibilidade de sucesso, cujos procedimentos não devem ser contínuos, pois a ansiedade sempre conspurca o êxito.
Nos intervalos, busca-se nas bibliografias a sua identificação, pelos meandros de vários livros, com miríades de modelos produzidos.
E, num destes intervalos, descobrimos na página 75 do segundo volume vasculhado (Toy Sewing Machines – da Glenda Thomas) sua perfeita identificação: É uma Junior Model NP-1; fabricada pela Gateway Engeenering Company – Chicago 51 – Illinois – USA, em 1948.
Gravura da Junior NP-1, no Toy Sewing Machines
O desmonte é executado minuciosamente, várias peças são mergulhadas em desoxidante, outras são cuidadosamente limpas com detergente neutro, sempre na intenção de preservar suas características de quando em funcionamento.

Alguns parafusos são descartados e, como suas roscas não são convencionais, necessita-se adquirir novos, torneando suas cabeças (eram cilíndricas), tornando-os similares aos originais e refazer suas sedes (roscas) na máquina.
Nossa Junior NP - 1, restaurada
O volante acionador do conjunto (com o cilíndrico excêntrico de acionamento das hastes balancins) foi magistralmente projetado e executado pelo filho Thiago em sua impressora 3D, com fidelidade e competência.
Finalmente, após longos anos de espera na fila da “pediatria”, devidamente recuperada ela exibe sua infantil elegância ao lado de uma centena de similares.


A PIC BIEN, é uma francesinha, foi adquirida de particular, em Curitiba e identificada por semelhança, através do Toy Sewing Machines, representada na página 72.
Estava completa, embora enferrujada e encravada, demonstrava condições de restauro.
Gravura da Pic Bien no "Toy Sewing Machines"

Antes de iniciar o desmonte
Na parte inferior da sua base havia uma antiga etiqueta de papel, com informações sobre a origem “Made in France”.  Conforme relato na bibliografia consultada, o modelo foi exportado para a Inglaterra, sem citação de outros países. Possivelmente tenha sido trazida ao Brasil em bagagem.
Seu acionamento mecânico utiliza um eixo com excêntricos nas extremidades. O do volante movimenta o balancim superior por uma biela. O do outro extremo, sob a mesa, movimenta os dentes impelentes (que puxam o tecido) e o rotor que forma a alça do fio, formando uma costura em cadeia (uma alça prende a sequente, em série).
Nossa PIC BIEN, após o restauro
Após completamente desmontada, tendo suas peças oxidadas mergulhadas em desoxidante, depois de limpas e adaptadas (algumas estavam empenadas), foi remontada, com mecanismo ajustado e lubrificado. Seu corpo recebeu apenas um tratamento anti ferrugem e polimento, pois a pintura em tonalidade azulada necessitou apenas de pequenos retoques e polimento.

Ambas passam a integrar o acervo de antigas maquinas infantis de costurar, já com mais de uma centena de exemplares.

Nesta postagem, uma merecida homenagem ao casal Mario e Christina, 
agradecendo pelo belíssimo regalo que nos ofereceu. 
Eles compõem o restrito e distinto grupo 
que muito nos incentiva a continuar preservando estas preciosidades históricas.

A fidalguia se distingue entre os raros (DD2018)
 Darlou & Sandra D'Arisbo















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