Etimologia e Simbologia:
Balança é um vocábulo originário do latim, formado pela união das palavras bis (dois) e linx (prato) que significa "instrumento de dois pratos".
A literatura cristã cita que São Miguel (o arcanjo do julgamento), pesa a alma dos mortos numa balança nivelada, avaliando os atos dos homens quando em sua vida terrena.
Arcanjo São Miguel |
Comumente as vemos como símbolo da Justiça, cuja balança da deusa grega Temis, definia o peso das razões de cada ser humano.
História da fabricação:
A Balança Manajós foi fabricada pelas indústrias Martins Ferreira, fundada no final do século 19, na Lapa, cidade de São Paulo. Grande indústria, com vários prédios e fundição de aço, no bairro da Lapa e no Brás.
Indústria Martins Ferreira – anos 1920 (foto D. Nacimento) |
Seu nome (Manajós) refere-se a um ramo do grupo de índios Tupinambás que habitavam regiões entre o litoral sul da Bahia e o Rio de Janeiro no século XVI.
Augusto Martins Ferreira |
A indústria produziu uma grande variedade de produtos de aço, balanças, panelas, pregos, ferramentas, ... Um dos produtos mais vendidos era ferraduras para os cascos de cavalos, considerando a época em que a principal locomoção era de tração animal. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 a empresa produziu também capacetes e armas para os soldados.
Crianças empacotando pregos (1917), quando o trabalho infantil era permitido e fazia parte de sua evolução
profissional e ética. (foto D. Nascimento) |
Ferraduras, a relevante produção para o período. (foto D. Nascimento) |
A minha balança Manajós:
Descobri esta balança, quebrada em quatro partes, lá por 1980. Estes poucos pedaços foram encontrados em locais diferentes de um mesmo “Ferro Velho”. Ficaram então acomodados em uma caixa, aguardando condições para reconstruí-la. Mas faltavam-lhe partes importantes e alguns elementos mais delicados já haviam sido retirados.
Cerca de 20 anos depois, após uma pré-limpeza, resolvi encaminhar as peças maiores a um soldador para tentar uni-las, mas como eram de aço doce (quebradiço), o serviço foi deplorável, com grossos e feios cordões de solda. Algumas partes ficaram desalinhadas e o conjunto incompleto e mutilado voltou para o depósito. Certamente um serviço mais especializado teria melhor êxito, porém continuaria incompleta e o investimento, impraticável. Assim, ficou sonegado por mais um bom tempo.
Parte frontal após pré-limpeza inicial e mais uma vez guardada |
Quarenta anos depois de adquirida:
Agora, em setembro de 2022, ao organizar a reserva técnica, decidi reconstruir a balança. Obviamente, sem a menor pretensão de caracterizar um restauro, apenas tentando preservar sua forma, restabelecendo sua centenária imagem, tão degradada pelos vândalos inconsequentes.
Por medida de segurança estrutural, mantive as soldas feitas disformes, reedificando a estrutura com perfis adaptados, solidarizados com rebites, parafusos ou até resinas bicomponentes (Durepoxi).
Seus pinos de articulação (B), com secção triangular para garantir melhor precisão, eram inseridos a quente nas partes móveis (A), apoiados na estrutura fixa (C). Por este motivo, impediram a desmontagem, exigindo radical corte com remoção e substituição por parafusos.
Esquema das articulações existentes |
Tal tarefa foi dificultada pela dureza dos pinos, em aço “temperamental”. Assim, as brocas, ao encontrar tal rigidez, desviavam e quebravam. Após muitas tentativas e erros, as peças (oito) foram encaminhadas a um torneiro mecânico, o qual teve os mesmos dissabores, afirmando “nunca vi aço tão duro !” Enfim, após obstinada persistência, conseguimos executar orifícios no lugar dos teimosos pinos para inserção de parafusos.
Braços articulados: (A) ainda com o pino e (B) já removido |
Articulações adaptadas com os parafusos, arruelas e porcas |
O mostrador, após escovação e tratamento de fundo aguardando desmontagem, troca de vidros e nova agulha indicadora de nivelamento. |
Concluída e exposta em nosso acervo |
Mais uma obra de arte por mãos que se dedicam a preservar a história e memória Sempre bom ler seus relatos. Nos inspira. Forte abraço
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