Nosso Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) possui também um grande acervo de máquinas de costurar infantis, que eram brinquedos fabricados e dirigidos à meninas, (a partir dos 7 anos), tendo como incentivo desenvolver a imaginação e a criatividade para aplicação no cotidiano para quando fossem adultas.
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Pintura educativa do início de 1900
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Foram comercializadas, principalmente na próspera época da utilização das máquinas domésticas, entre 1880 e 1970, quando tais trabalhos caseiros eram necessários na confecção e manutenção das roupas da família, e também pela indisponibilidade no comércio e custo das prontas.
Catálogos ofereciam as maquininhas, dentre outros brinquedos:
As indústrias alemãs, entre o final de 1800 e início de 1900, situavam-se entre as mais desenvolvidas do mundo, e Dresden (capital da Saxônia) destacava-se também pelos muitos prédios culturais, exuberante arquitetura clássica, dentre palácios, museus, etc.
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Indústria Clemens Muller em Dresden – Imagem
gentileza Sewalot UK |
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No catálogo da Muller (1898), as opções citavam dimensões e
peso. |
Infelizmente, o extraordinário parque fabril de Dresden, que produzia as melhores máquinas de costurar do mundo, transformou-se em indústria bélica para atender a demanda militar e foi dizimado pelos Aliados em 13 e 14 de fevereiro de 1945. Ali, em dois dias, mais de cem mil habitantes perderam a vida, transformando a cidade em ruínas e aniquilando as indústrias e seus registros históricos. Hoje é praticamente impossível descobrir as datas de fabricação de antigas máquinas alemãs.
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Dresden antes e após a destruição pela guerra |
A história da humanidade possui algumas páginas negras: A destruição decorrente das guerras, independe de razões, disputas territoriais, doutrinas,... Excedem os interesses em bens físicos e rompem as sequencias históricas. As pessoas perdem suas origens, documentos, família, referências geográficas, nacionalidades, além do descomunal custo financeiro. E o êxodo provoca desequilíbrio mental e inúmeras patologias decorrentes e indiretas. Vejo que a humanidade ainda não evoluiu o suficiente para entender a infinita graça da paz.
As maquininhas infantis, atendendo às cobiçosas meninas, eram também produzidas por várias fábricas de máquinas convencionais, como a Muller e Casige (alemãs, que continuaram no pós guerra sob direção inglesa), Necchi (italiana), Singer e Delta S. C. (USA), Pic Bien (França), Fanconia (Japão), SEWnPlay (China), Vulcan (Inglaterra), Estrela e Martau (Brasil), e outras tantas que compõem o acervo de nosso museu.
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Uma das coleções de nosso acervo |
Assim, ao contrário da atualidade, onde os brinquedos limitam-se ao entretenimento virtual, pouco ou nada instruindo, as maquininhas despertavam e ensinavam, de maneira agradável e lúdica, canalizando as energias das crianças numa produção frutífera.
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Atenção e coordenação. (Imagem gentileza Ana Caldato) |
As meninas produziam roupas para as bonecas e até utilidades diversas para seu uso, admirando suas obras físicas, em ações tangíveis.
A atenção, controle, planejamento e compenetração conferidos ao ato de costurar, consistiam em ótimo aprimoramento para as atividades profissionais quando adulta, fundamentos úteis para toda a vida, fossem elas médicas, engenheiras, professoras, advogadas,... Além do desempenho da costura doméstica, cuja profissão de costureira era bastante dignificada.
Nosso acervo possui algumas ainda com embalagem original
Mesmo após décadas, despertam curiosidade (nossa neta, 2017)
Nossa oficina de restauro conserta e complementa estas peças históricas, visando sempre preservá-las da maneira que estavam quando em seu pleno funcionamento, mantendo todas as peculiaridades inerentes do uso. Assim, procura-se resguardar as características das pessoas (e atos) que as manuseavam e do ambiente na época de sua utilização.
Limpando uma pecinha após confecção e torneando a manopla.
Temos registros de máquinas que obtivemos em situação deplorável, quase irrecuperáveis,
com mecanismo encravado, oxidadas, com peças faltantes e até despedaçadas. Outras chegaram com aplicações agressivas de jato
de areia (proibidos por lei) ou produtos cáusticos, que deterioram suas frágeis
partes.
Também as disparatadas “decorações” que condenam as maquininhas,
extinguindo o caráter revelador de uma história.
Corpo da Casige 1942, alemã, sendo desmontada. E após o restauro.
Procuramos também preservar suas peculiaridades inerentes do uso, como bilhetes infantis escritos ou desenhados, marcas em embalagens originais. desgastes generalizados que revelam excessiva ou extensa utilização. Algumas foram imaculadamente preservadas como ornamentos em aposentos de meninas.
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Sew Ette ZIgZag, na oficina de restauro e depois de concluída. |
Estas maquininhas eram projetadas para propiciar atividades seguras, com sistemas protegidos de alcance à agulha, acionamento macio por manopla no volante, acompanhavam manuais fartamente ilustrados e até moldes para confecção dos trabalhos.
Manual da Litle Betty (USA)
Manual da maquininha Estrela (Brasil)
Produziam ponto em cadeia (apenas um fio), com regulagem de tensão da linha e de dimensão de ponto. Algumas com acionamento elétrico (pilhas), e outras, mais sofisticadas com pontos em zig-zag, permitindo acabamentos em bainhas e decorativos.
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Outra coleção de nosso acervo |
Nosso acervo conta com uma centena de maquininhas infantis de costurar, de várias origens, épocas e dimensões. Algumas sobreviveram a mais de um século, satisfazendo várias gerações e trazendo relatos curiosos, que ilustram e acompanham a história de várias delas.
Müller 1889 (indústria
Friedrich Wilhelm Muller) Berlin.
A mais antiga de nosso acervo.
Müller 1900, curioso sistema mecânico com biela curva.
Foi encontrada no lixo, em
Curitiba/PR.
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Straco (Straus Company), distribuída no Brasil pela Estrela.
Caixa de fósforos compara dimensões.
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Mirim, brasileira, cópia
miniaturizada da Elgin (direita), com perfeição de detalhes,
cores e funcionamento
(caixa de fósforos compara dimensões) |
Bambi 1961 brasileira, perfeita. Com estojo (baú) de madeira.
Algumas peculiaridades acompanham a história destas maquininhas e não devem ser ignoradas ou eliminadas, pois constituem elementos presentes. São ricos detalhes, reveladores de fatos cronológicos. As Casige e American Girl (abaixo) possuem inscrições identificadoras: foram fabricadas nas zonas ocupadas de Berlim, pelos aliados ao final da segunda guerra.
Casige 1946, fabricada na zona inglesa da
Alemanha ocupada.
American Girl (Industria Delta) em 1947 na US
zone, Alemanha ocupada.
S.M.J., francesa, 1920, com curioso sistema de acionamento por manivela, patenteado por S. W. Muller em 1888.
Casige GESCH-M,
fabricada na zona inglesa da Alemanha ocupada, em 1946.
Encerramos esta publicação, expostas algumas destas preciosidades, no sentido de incentivar à preservação destas maquininhas que tanto participaram da evolução das crianças meninas do início do século XX.
Também é de bom alvitre sugerir aos pais e mestres para que evitem permitir que estes pequenos administradores do mundo de amanhã mantenham-se hoje mergulhados no mundo virtual dos aparelhos eletrônicos, os quais produzem patologias mentais e atrofiam a musculatura das crianças.
Prof. Darlou D'Arisbo
darisbo47@gmail.com
novembro de 2023
Encantado por mais um registro e ensinamento que você nos proporciona. Parabéns e um forte abraço.
ResponderExcluirSimplesmente maravilhoso!!! Resgate de registros mto interessantes!! Parabéns
ResponderExcluirSimplesmente maravilhoso....registros mto enriquecidores p a nossa história...Parabéns 👏👏👏
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