sexta-feira, 31 de agosto de 2012

“Clemence” ____________ Publicação 16

 

Consideramos missão do museu, tão essencial quanto a preservação da história, a informação transmitida  à sua comunidade, agregando conhecimento de forma prazerosa e lúdica.

Assim, o Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC),  apresenta hoje mais algumas curiosas peripécias na arte do restauro. 

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

A história da Clemence cujo título poderia ser “O transplantado morreu e a doadora ressuscitou”  ocorreu quando de seu pretenso descarte.

Esta antiga máquina de costurar Clemens Muller (689.073), agora batizada de Clemence, foi adquirida como sucata, em Bento Gonçalves/RS, no verão de 1978.   Faltavam-lhe muitas partes (volante, coroa, engrenagens, eixos,..) e o que existia, enferrujado, encravado, revelava difícil utilidade.   Ficou no depósito da nossa garagem por décadas, sem merecer fotografia.

Em 2001, com a organização do museu, ela recebeu uma breve limpeza, teve parte da mecânica inferior retirada, inutilizável mesmo para reposição.  Catalogada como possível doadora, foi depositada como reserva técnica.

Três anos depois, para a tentativa de retirada de uma engrenagem cônica interior, teve seu eixo desencravado. Foi após muito trabalho, por vários dias, que seu o eixo girou..  Como aquela engrenagem negou-se a sair, a máquina voltou novamente para a reserva técnica.

Em 2008, teve a fronte desmontada, para retirada do cursor vertical (da agulha), mas como não serviu na máquina receptora, foi novamente reconstruida e recolocada.  Pouco depois, encontramos num ferro velho um volante Clemens Muller, com seu eixo excêntrico quebrado.   Um eixo similar foi executado para outra máquina, mas não serviu e foi guardado.

P8302159Coroa (engrenagem motriz)

Anteontem, ela foi desmontada para doação de peças à outra Clemens Muller, que estava em restauro. Observou-se, porém, que a engrenagem motriz desta receptora, servia na Clemence, porém não no seu volante, nem no eixo excêntrico.

Tentamos então colocar o volante do ferro velho, a engrenagem motriz desta e aquele eixo guardado, na Clemence. Quase perfeito, porém o diâmetro do eixo era pequeno e refazê-lo seria financeiramente inviável.

P8302158  Alguns órgãos transplantados na doadora

Na noite seguinte, ao beber uma lata de cerveja para arrefecimento do cérebro, surgiu-me a idéia: cortar uma fita do alumínio da lata e enrolá-lo no eixo, aumentando seu diâmetro.  Após algumas tentativas, com uma volta, duas voltas, .. serviu com duas e meia.. Montado o volante e a engrenagem motriz, foi feita a regulagem no excêntrico para encaixe dos dentes e a mecânica superior funcionou! Aleluia!

A fronte, anteriormente limpa, teve seus cursores e cames azeitados e foi encaixada no lugar. Parafusos novos (envelhecidos a fogo) foram colocados e as roscas fixas refeitas.  A tampa da lançadeira foi executada com uma lâmina inoxidável, com laterais cuidadosamente limadas para deslizar nas ranhuras da mesa.

O pé de madeira da pretensa receptora, foi adaptado à Clemence, assim como o seu brasão dourado. Pinos de suporte para carretel de linha foram colocados, terminais dos cursores,... e tudo o suficiente para sua funcionalidade.

Enfim, mesmo sem a parte mecânica inferior, a Clemence desabrochou das trevas da sucata e, após mais de três décadas de espera, de doadora passou a transplantada.  Agora incorpora o acervo das expostas, ao lado de outras 29 Clemens Muller, fabricadas em Dresden, há um século.

P8302166'”Clemence”  Clemens Muller

Tal a Cinderella, aquela da história infantil chinesa do século IX, nossa Clemence exibe-se solene e quebra o silêncio com seu ronronar metálico  multitransplantado.

Até a próxima

7 comentários:

  1. Olá, Darlou !!!
    Sou verdadeiramente apaixonada por máquinas antigas.
    Ficaria muito agradecida se me ajuda-se a realizar, este meu grande sonho ... que é ter uma máquina de costura manual. Que estivesse em boas condições de uso.
    Se souber alguém que tenha uma para venda.
    Por favor me avise.
    Estou seguindo seu lindo blog para ficar sempre por dentro das novidades.
    Tenha um ótimo final de semana!

    Sonia Faria

    ResponderExcluir
  2. Grande matéria e grande força para restaura-la.Gostei da cerveja que alem de suprir as idéias ainda serve para outras coisas KKK!!! Tenho uma máquina dessa também gostaria de saber sua opinião em restaura-la. quais materiais usar e etc. Abraço

    ResponderExcluir
  3. Olá, adoro maquinas de costura, estou com uma igual a esta desmontada e meu marido a está restaurando, seu blog é otimo adorei as dicas do restauro. No total tenho 7 maquinas antigas, 1 Gretzner, 1 Vesta, 2 Singer, 1 como esta da foto e outras 2 tão deterioradas que ainda não sei qual são.Agradeço pelas dicas,
    abraços
    Isa

    ResponderExcluir
  4. Tenho uma identica a esta, esta em perfeito funcionamento, mas tenho apenas um problema.. Nao sei como passar a linha pela lançadeira.. Tentei de varias maneiras mas nao consigo. Alguem pode me ajudar?

    ResponderExcluir
  5. Olá Lucas:
    Informe-me seu e-mail para responder diretamente. Aguardo e agradeço

    ResponderExcluir
  6. Sr Darlou, estou encantada com vossa dedicação em resgatar a histórias de máquinas tão raras. Também restauro, porém, somente móveis. Tenho uma grande queda pela madeira.
    Parabéns pela determinação. Somos feitos de passado.
    Abraço
    Sandra Guadagnin

    ResponderExcluir