Nascido em Abresle, no Reno, era um modesto mecânico e alfaiate quando inventou o primeiro aparelho para coser, imitando o gesto das bordadeiras dos montes de Lyon.
Para entender os princípios de mecânica, associou-se a um professor da Escola de Mineiros de Saint-Etienne que elaborou os planos da sua invenção, cuja patente foi registrada em 1830.
Com a participação de sócios capitalistas parisienses, abriu o primeiro atelier de confecção do mundo, onde 80 rudimentares máquinas cosiam seis vezes mais depressa que à mão.
Projeto patenteado por Thimonnier |
No final do mesmo ano, o exército francês, em campanha na Argélia, encomendou uniformes para os soldados em combate. Thimonnier instalou então sua empresa em Paris. Porém em 20 de janeiro de 1831, duzentos costureiros, que temiam pelos seus postos de trabalho, saquearam o prédio e destruíram as máquinas.
Era a época da Revolução de Julho e das Três Gloriosas, as mulheres e crianças eram exploradas e as máquinas ameaçavam os operários alfaiates numa miséria ainda maior pela suposta decorrente mecanização.
Em 1832, Thimonnier fabricou um instrumento de costura para fazer pespontos e tentou a conquista comercial em Paris. Porém, novos tumultos explodiram, e foi mais uma vez fracassado. Em 21 de Julho de 1845, com uma nova patente, tentou novamente e, pela primeira vez, a imprensa francesa lhe foi favorável.
A máquina “cose e borda” qualificada de pequena maravilha numa publicação de 19 de agosto de 1845, permitia realizar 200 pontos por minuto e podia alterar o tamanho deles através de um simples parafuso.
Na revolução de 1848, caiu a monarquia dos Bourbon com a proclamação do Segunda República, Thimonnier foi expatriado para Inglaterra, onde tentou uma patente inglesa. No entanto, outros inventores, na Europa e nos Estados Unidos, haviam desenvolvido as suas descobertas
Primeira máquina de Thimonier |
Dificuldades com o sócio inglês, obrigaram Thimonnier a regressar para a França, onde outras desilusões o esperavam. A França estava recuperando-se de outro golpe de Estado. E, em 1851 a máquina que deveria estar presente na Exposição Universal de Londres não foi entregue a tempo. Enquanto o seu filho mais velho partia para a guerra da Criméia, Thimonnier era novamente ameaçado pelos alfaiates e também pelos seus concorrentes.
Ilustração feita por ele em 1845
Em 1855 abandonou o frágil sistema de costura por “ponto de cadeia”, com único fio lançado no tecido por uma agulha (tipo crochet com duplo arco, na parte superior e na inferior). Consagrou-se então ao ponto com dois fios, obtido graças a uma agulha de fazer rede. Contudo, a sua nova máquina também não ficou pronta a tempo da seguinte Exposição Universal de Paris.
Segunda máquina e Thimonnier |
Decepcionado, Thimonnier voltou ao aperfeiçoamento do ponto de cadeia, porém sem sucesso, com perigo de descoser.
Depois de muitas malogradas tentativas, morreu na miséria, em 1859. Por ironia do destino, um monumento foi-Ihe dedicado em Lyon, na Place de Abondance.
Outros pioneiros
Outros inventores também conheceram dissabores. Em 1735, Charles Weisenthal, alfaiate alemão, residente na Inglaterra, obteve uma patente para uma rudimentar máquina dotada de uma agulha de duas pontas munidas de um buraco no meio. O curioso instrumento de coser não teve sucesso.
Em 1790, Thomas Saint, marceneiro inglês realizou um protótipo para acolchoar e fazer costuras em sapatos, botas, pantufas e semelhantes. Colocada em cima de uma armação de madeira, esta máquina funcionava com a ajuda de uma manivela. Uma sovela (semelhante a uma pequena lança) perfurava o tecido e, através desse orifício, passava uma agulha munida de um buraco no meio. Todavia, este engenho, demasiado arcaico, não possuía nenhuma vantagem, a não ser a de conduzir o fio.
No mesmo ano, o alemão Balthasar Krems, inventou uma agulha com o buraco junto à ponta. Embora rejeitada, a agulha perpetuou seu desenho até hoje.
Em 1807, Joseph Madersperger, mestre alfaiate austríaco, construiu uma máquina dotada de uma agulha com duas pontas e orifício no centro. No entanto, esta podia utilizar apenas quarenta e cinco centímetros de fio de cada vez. Oito anos após, desenvolveu um novo modelo, com duas agulhas e um terceiro fio, alternadamente alçado pelos anteriores. Porém, dificuldades financeiras obrigaram-no a abandonar as suas pesquisas.
O estadunidense Walter Hunt, empregou pela primeira vez, o princípio da lançadeira (naveta) em 1834.
Elias Howe, inventor (USA), desenvolveu uma máquina mais satisfatória, com agulha horizontal, porém foi mal sucedido ao promovê-la.
Elias Howe, sua máquina em 1846 |
Howe mudou-se para a Inglaterra e vendeu lá seu projeto para William Thomas, por 250 libras. Desgostoso, empobrecido e insatisfeito, anos após voltou aos Estados Unidos e surpreendeu-se com o sucesso do seu projeto executado ilegalmente por outros fabricantes.
Após muitas demandas judiciais, em 1854, conseguiu recuperar suas patentes e receber imensas indenizações, incluindo U$15.000,00 de Isaac Singer. Em 1867, passou a ser um dos homens mais ricos do mundo.
James Edward Allen Gibbs era um agricultor em em Rockbridge County, Virgínia. Interessado em mecânica, em 1854 desenvolveu uma rudimentar máquina em madeira, com inovador ponto em cadeia (ponto anterior é alçado pelo posterior).
A máquina e o sistema de ponto em cadeia
Gibbs associou-se com Charles Willcox e patentearam o sistema, incluindo outras soluções (tensão automática da linha, alimentação, remoção de torções e até redução de ruído). Suas máquinas Willcox & Gibbs constituiram sucesso por décadas.
Willcox & Gibs 1857 (acervo do autor)
A partir de 1851, os fabricantes ingleses e alemães acotovelavam-se para ganhar um lugar no próspero mercado. Marcas germânicas como Adam-Opel, Universam e Saxonia surgiram e fábricas inglesas como Jones, Starter & Company impuseram-se. Procuraram soluções para tornar o fio mais resistente e diversificar os tipos de ponto, enquanto que o sistema de lançadeira se impôs.
Indústria Stoewer
Propaganda da época de máquina Junker acervada pelo autor
Adam Opel (Rüsselsheim 1837 – 1895) trabalhou para a indústria francesa Journaux & Leblond, fabricante de máquinas de costurar. Em 1862, começou a construí-las por conta própria em sua pequena e artesanal fábrica na Alemanha.
No ano de 1868, casou com Sophie Marie Scheller. O dote da noiva permitiu ampliar sua fábrica e produzir a "Sophia", em honra à esposa, sucesso de vendas e exportação. Em 1884 construiu 15 mil máquinas de costurar e, no ano seguinte, Opel iniciou também a construção bicicletas.
Seus filhos continuaram a empresa e, em 1899, produziram o primeiro automóvel Opel.
Em 1867, a Peugeot entra na corrida e não cessou mais sua atividade no domínio da máquina de costurar até 1936, para se lançar na construção de automóveis. Dentre tantos outros equipamentos mecânicos, a Peugeot produziu também moedores manuais de grãos (o autor resgatou um exemplar, no interior do Rio Grande do Sul, fabricado no século XIX e ainda em bom funcionamento).
Propaganda das máquinas Peugeot no início de 1900
Isaac Merrit Singer, estadunidense e filho de imigrante judeu alemão, começou a carreira na comédia teatral sob o pseudônimo de With. Em 1850, convertido à mecânica, agrupando soluções existentes e adquirindo sistemas já patenteados, iniciou a produção de máquinas de costurar.
Consciente de suas qualidades de orador, Singer iniciou-se no sistema de venda de “porta a porta” fazendo também demonstrações em feiras e circos. Para conseguir mais atenção, instalava-se no passeio e costurava com a máquina. Os transeuntes apinhavam-se para o ver, artista que era.
A primeira máquina, batizada de “Jenny Lind” em honra a uma cantora sueca, foi um sucesso. Em 1858 produziu a “Sauterelle” e depois o modelo “A” (o autor resgatou e mantém no acervo, em ótimo estado de conservação), com revolucionária lançadeira transversal. Singer foi o precursor da locação com opção de compra (leasing), onde o adquirente pagava o aluguel da máquina até atingir o seu valor total, quando se tornava proprietário.
Declaração da Sra. Wm. Allison M., Statesville, Carolina do Norte, em 1911: “…possuo e opero a Singer desde 1860, já costurei mais de cem milhas e ainda está boa” |
Singer democratizou a máquina de costurar e tornou-se o líder mundial dentre os 124 fabricantes que já partilhavam entre si o mercado. Em 1880, ele construiu 3 milhões de exemplares de diferentes modelos. E no ano de 1891, sua produção foi de 10 milhões de máquinas.
Desta maneira, nosso museu relata, embora de maneira sucinta, os pioneiros inventores e fabricantes das máquinas de costurar, no sentido de resgatar a história e homenagear estes intrépidos precursores.
Prof. Darlou D'Arisbo
Apreciei muito o seu museu e a história das máquinas de costura. Meu interesse foi por causa de uma máquina de costura que ganhei que foi de minha tia-avó. Está em péssimo estado e com a roda da manivela quebrada.pensei em restaurar mas acho que vai dar muito trabalho.
ResponderExcluirOlá, comprei um Máquina de costura alemã Muller com pés bordados, toda em ferro, mas ela não tem a plaqueta, como consigo um plaqueta para minha máquina? Desde já agradeço a ajuda.
ResponderExcluirOlá! Tenho uma máquina de costura VESTAZINHA e um amor imenso por ela. Gostaria muito de saber seu ano de fabricação. Como posso conseguir isso? Vocês poderiam me auxiliar? Obrigada! Abraço.
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